quarta-feira, 27 de julho de 2011

Simbologia oculta no jogo de xadrez


Jogar xadrez é, antes de tudo interpretar, atuar em determinado campo. Podemos observar que este jogo apresenta-nos três aspectos que justificam esta afirmativa, quais sejam:

1. A do seu aspecto conceptual, de beleza, que nos conduz à análise de considerá-lo uma arte;

2. A do seu aspecto lógico, de raciocínio e também de abstração, que mostra-nos o seu sentido como ciência;

3. A do seu aspecto competitivo em busca da vitória, que nos apresenta como característica de esporte.

O xadrez originou-se na Índia e, apesar de estar relacionado à casta Kchatryia (dos guerreiros), é originário da casta sacerdotal (Brahmânica). Vale dizer que o xadrez é composto de 64 casas em quadrado perfeito, alternadas em preto e branco, que se somadas (6 + 4), perfazem o número perfeito 10 (dez), ou I.O, itinerário de Ísis e Osíris, que nada mais é do que o ciclo das encarnações terrestres.

No Tarô, o Arcano 10 é representado pela Roda da Vida, onde o buscador da verdade depara-se com a Esfinge e suas quatro faces. No I Ching, o antigo oráculo chinês, temos os 64 hexagramas que perfazem o caminho das mutações do indivíduo encarnado no jogo da vida, os quais, são combinações formadas entre si dos 8 trigramas num quadrado de casas e que, foram concebidos como representação de imagens de tudo o que ocorre no céu e na terra.

Podemos assim entender, que a lei de causa e efeito atua inexoravelmente no jogo de xadrez, determinando o destino do jogador, pois cada um se torna livre para analisar e efetuar as diversas possibilidades de movimento de suas “peças”. Ao assim fazer, trará para si as conseqüências, os efeitos de ação de movimentar-se no “tabuleiro”, no âmbito dos quadrados mágicos. Configura-se então a necessidade do conhecimento e da sabedoria de posicionar-se diante dos problemas a serem enfrentados, representados nas possibilidades que o jogo oferece diante dos limites impostos pelo tabuleiro que aqui expressa a própria encarnação física.

A figura do destino que se delineia a partir do início do “jogo”, apresenta-se na chance de se sair vencedor, o que indica que existem condições que favorecem substancialmente alterações durante a partida e que dependerão exclusivamente da inteligência e da estratégia utilizada pelo jogador.

Toda estrutura do jogo é fundamentada num sistema quaternário, que representa a ação de jogar e o próprio caminho, esotericamente falando, além de reportar-se às castas hindus representadas:

1. Casta dos Brahmanes – dos sacerdotes – o Rei e seu conselheiro, a Rainha.

2. Casta dos Kchatryias – dos guerreiros – Bispos, Cavalos e Torres.

3. Casta dos Vaisyas – dos mercadores e agricultores.

4. Casta dos Sudras – dos homens que se dedicavam a ocupações menores – escravos, que estão representados no jogo pelos peões.

Note-se que, cada uma delas atua dentro do aspecto binário, de relevante importância no esoterismo, para que se possa armar devidamente a estratégia do jogo: o Rei e a Rainha, dois Bispos, dois Cavalos, duas Torres e 8 peões (o duplo quaternário).
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O tabuleiro, por sua vez, que apresentasse-nos como o campo de batalha a ser empreendida, simboliza o próprio meio onde homem nasce, vive e morre.

Vejamos: no quadrado acima (1, 2, 3 e 4) está simbolizada a roda quaternária dos elementos terra, água, ar e fogo, na sua forma mais comum. Representa o homem em ação, encarnado, em pleno jogo, escorado pelas suas condições natas de se posicionar perante o destino. Aqui há de se estabelecer relações também com os quatro estados da matéria (sólido, líquido, gasoso e éter), os 4 pontos cardeais, as 4 estações do ano, os 4 evangelistas, etc.

No segundo quadrado, que envolve o quaternário interno, temos a representação das 12 casas zodiacais que simbolizam o homem realizando sua evolução através de encarnação pelos 12 “portais”, que nada mais são que o trabalho que cada ser humano precisa desenvolver em cada signo do zodíaco, segundo suas peculiaridades próprias, para que ele possa atingir a vitória após suas 4 grandes fases da vida sobre a terra: infância, adolescência, maturidade e velhice. Aqui pode-se fazer, esotericamente, relações com os 12 meses do ano, os 12 apóstolos de Cristo, os 12 cavaleiros do Rei Artur, além de outras ligações numerológicas que encontram-se veladas na expressão que envolve o ternário e o quaternário, como por exemplo, o simbolismo do Arcano 12 do Tarô.

No terceiro quadrado temos 20 casas, as quais se relacionam ao Arcano 20, onde se nos espreita a idéia do juízo individual, onde é encontrado um campo de ação (movimento) num ambiente de luta circunscrito no tabuleiro e que concederá ao jogador a possibilidade de vitória. Há, entretanto, que haver discernimento, ação inteligente, convicção no objetivo traçado e não se deve ferir a lei que a todos rege, ou seja, os limites estabelecidos pela ética dos movimentos.

No quarto quadrado encontramos 28 casas limítrofes do campo de batalha, as quais sintetizam as 4 fases lunares em seus ciclos mensais: quarto crescente, cheia, minguante e nova, de 7 dias cada uma. Todo homem em seu “jogo” pela sobrevivência e aprendizado, está continuadamente submetido às influências deste ciclo mensal mutante sem, muitas vezes, perceber sua notável interferência. Trocado em miúdos, a vitória do “jogador” não depende somente dele próprio, mas do ambiente que o rodeia, das possibilidades de cada dia e da estratégia utilizada pelo seu oponente, formando um conjunto de elementos que não podem ser desprezados.

Observamos assim, que o jogo de xadrez reúne em si mesmo uma complexidade de normas, oriundas de sua própria estrutura e criação, estabelecendo ao mesmo tempo um conjunto educativo, harmonioso e de beleza incomparável, que pode oferecer ao homem novos meios de encarar a vida e conduzi-la, não como um competidor simplesmente, mas como um ser inteligente em busca da vitória, que conhece as regras estabelecidas, que está atento aos acontecimentos que cercam sua vida e que respeita seu oponente.

Percebemos que sua forma transcende em muito a simples idéia de “passar o tempo” ou do simples conceito de esporte, conduzindo a todos aqueles que o buscam compreender na sua essência, em direção ao real sentido da vida, este cenário de vitórias e derrotas, e concluir que o vencer ultrapassa o pequeno limite do tabuleiro e do movimento das peças, num jogo de inteligência para algo muito maior, infinitamente mais significativo e real, que representa nossa própria existência sobre a Terra.

Nota: artigo de autoria de José Augusto Fonseca, publicado no Jornal Gênesis Ltda – Itaúna/MG, tendo como editor-chefe e sócio-proprietário Wálter Ferreira Júnior).

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